quinta-feira, 19 de março de 2015

LEI DE ADORAÇÃO



A adoração é uma das leis naturais, porque é resultante de um sentimento inato no homem. Por esse motivo é que todos os povos sempre adoraram a Deus, embora de formas diferentes.

O vocábulo adoração significa, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, ato ou efeito de adorar, que está intimamente relacionado à palavra veneração, culto que se rende a alguém ou algo considerado divindade. No sentido vulgar do termo, adorar traduz-se como prestar culto à divindade. Todavia, afirmam os Espíritos Superiores que adoração consiste na [...] elevação do pensamento a Deus.

Deste, pela adoração, aproxima o homem sua alma (1). Esclarecem também que a [...] adoração está na lei natural, pois resulta de um sentimento inato no homem. Por essa razão é que existe entre todos os povos, se bem que sob formas diferentes (2).

Tempos houve em que cada família, cada tribo, cada cidade e cada raça tinha os seus deuses particulares, em cujo louvor o fogo divino ardia constantemente na lareira ou nos altares dos templos que lhes eram dedicados. Retribuindo essas homenagens (assim se acreditava), os deuses tudo faziam pelos seus adoradores, chegando até a se postar à frente dos exércitos das comunas ou das nações a que pertenciam, ajudando-as em guerras defensivas ou de conquista (8).

É importante destacar que a [...] palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla. Não indicava, como presentemente, uma personificação do Senhor da Natureza. Era uma qualificação genérica, que se dava a todo ser existente fora das condições da Humanidade. Ora, tendo-lhes as manifestações espíritas revelado a existência de seres incorpóreos a atuarem como potência da Natureza, a esses seres deram eles o nome de deuses, como lhes damos atualmente o de Espíritos.
Pura questão de palavras, com a única diferença de que, na ignorância em que se achavam, mantida intencionalmente pelos que nisso tinham interesse, eles erigiram templos e altares muito lucrativos a tais deuses, ao passo que hoje os consideramos simples criaturas como nós, mais ou menos perfeitas e despidas de seus invólucros terrestres. Se estudarmos atentamente os diversos atributos das divindades pagãs, reconheceremos, sem esforço, todos os de que vemos dotados os Espíritos nos diferentes graus da escala espírita, o estado físico em que se encontram nos mundos superiores, todas as propriedades do perispírito e os papéis que desempenham nas coisas da Terra (6).

Para entendermos a adoração, precisamos reconhecer que esta acompanha o processo evolutivo da criatura humana, uma vez que, como o homem evolui intelectual e moralmente, aperfeiçoa também sua concepção de Deus e a sua forma de adorá-lo. Podemos, então, acompanhar com nitidez a transformação histórica da idéia de Deus ocorrida na nossa humanidade: partindo das primitivas idéias politeístas, alcançamos significativo progresso religioso com o monoteísmo, a despeito de ainda presos às manifestações de culto exterior. Nesse ponto da história religiosa do Planeta, a nossa rota evolutiva abre-se em uma bifurcação, estabelecida pelo surgimento do Cristianismo. Assim, os povos do hemisfério ocidental abraçam as idéias cristãs, enquanto os povos do hemisfério oriental se mantêm presos às tradições religiosas do seu passado remoto. 

É oportuno assinalar que vindo [...] iluminar o mundo com a sua divina luz, o Cristianismo não se propôs destruir uma coisa que está na Natureza.
Orientou, porém, a adoração para Aquele a quem é devida. Quanto aos Espíritos, a lembrança deles se há perpetuado, conforme os povos, sob diversos nomes, e suas manifestações, que nunca deixaram de produzir-se, foram interpretadas de maneiras diferentes e muitas vezes exploradas sob o prestígio do mistério. Enquanto para a religião essas manifestações eram fenômenos miraculosos, para os incrédulos sempre foram embustes. Hoje, mercê de um estudo mais sério, feito à luz meridiana, o Espiritismo, escoimado das idéias supersticiosas que o ensombraram durante séculos, nos revela um dos maiores e mais sublimes princípios da Natureza (7). 
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Devemos considerar, no entanto, que longe ainda nos encontramos de adorar Deus em espírito e verdade, conforme preconiza o Espiritismo, e lembrando a mensagem cristã. Muitas interpretações religiosas ainda trazem o ranço das manifestações ritualísticas, visíveis nos seus cerimoniais de culto externo. Emmanuel, a propósito, lembra-nos que nos [...] tempos primevos, como na atualidade, o homem teve uma concepção antropomórfica de Deus. Nos períodos primários da Civilização, como preponderavam as leis de força bruta e a Humanidade era uma aglomeração de seres que nasciam da brutalidade e da aspereza, que apenas conheciam os instintos nas suas manifestações, a adoração aos seres invisíveis que personificavam os seus deuses era feita de sacrifícios inadmissíveis em vossa época. Hodiernamente, nos vossos tempos de egoísmo utilitário, Deus é considerado como poderoso magnata, a quem se pode peitar com bajulação e promessa, no seio de muitas doutrinas religiosas (9).

Os Espíritos Orientadores da Codificação Espírita nos esclarecem que [...] adoração verdadeira é do coração. Em todas as vossas ações, lembrai-vos sempre de que o Senhor tem sobre vós o seu olhar (3). Esclarecem igualmente que a adoração exterior será útil, [...] se não consistir num vão simulacro. É sempre útil dar um bom exemplo. Mas, os que somente por afetação e amor-próprio o fazem, desmentindo com o proceder a aparente piedade, mau exemplo dão e não imaginam o mal que causam (4).

Na verdade, continuam elucidando os Espíritos Codificadores, Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes. Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam. É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento. Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem, ou ambicioso dos bens deste mundo. Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais culpado do mal que faz, do que o selvagem ignorante [...]. E como tal será tratado no dia da justiça. Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis; se for um homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão. Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda uma vez vos digo: até ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração (5).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Questão 649, p. 316.
2. ______. Questão 652, p. 316.
3. ______. Questão 653, p. 317.
4. ______. Questão 653-a, p. 317.
5. ______. Questão 654, p. 317-318.
6. ______. Questão 668, p. 323.
7. ______. p. 324.

8. CALLIGARIS, Rodolfo. As Leis Morais. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. (Como adorar a Deus?), p. 46.

9. XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 15 (O antropomorfismo), p. 8

LEI DIVINA OU NATURAL


A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela se afasta (3). São características fundamentais da lei de Deus: a eternidade e a imutabilidade, atributos do próprio Deus, que a criou (4).

Todas as leis [...] da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o autor de tudo. O sábio estuda as leis da matéria, o homem de bem estuda e pratica as da alma (5). Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: as leis físicas, cujo estudo pertence ao domínio da Ciência. As outras dizem respeito especialmente ao homem considerado em si mesmo e nas suas relações com Deus e com seus semelhantes. Contêm as regras da vida do corpo, bem como as da vida da alma: são as leis morais (6).

A lei de Deus está escrita na consciência (8). Em razão disto, todos [...] podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem. Os homens de bem e os que se decidem a investigá-la são os que melhor a compreendem. Todos, entretanto, a compreenderão um dia, porquanto forçoso é que o progresso se efetue (7).

A lei de Deus é continuamente revelada aos homens, não obstante estar ela escrita na consciência, porque é passível de ser esquecida e desprezada pelo ser humano. Quis, assim, Deus que ela fosse sempre lembrada (9). [...] Em todos os tempos houve homens que tiveram essa missão. São Espíritos superiores, que encarnam com o fim de fazer progredir a Humanidade (10).

Esses missionários, porém, quando encarnados, podem ser influenciados pela vida no plano físico e, cometendo enganos, induzem a Humanidade a se transviar por princípios falsos. Isso aconteceu com [...] aqueles que não eram inspirados por Deus e que, por ambição, tomaram sobre si um encargo que lhes não fora cometido. Todavia, como eram, afinal, homens de gênio, mesmo entre os erros que ensinaram, grandes verdades muitas vezes se encontram (11).

O amor ao próximo, ensinado por Jesus, é um preceito que resume a lei de Deus. Certamente [...] esse preceito encerra todos os deveres dos homens uns para com os outros. Cumpre, porém, se lhes mostre a aplicação que comporta, do contrário deixarão de cumpri-lo, como o fazem presentemente. Demais, a lei natural abrange todas as circunstâncias da vida e esse preceito compreende só uma parte da lei. Aos homens são necessárias regras precisas; os preceitos gerais e muito vagos deixam grande número de portas abertas à interpretação (12).

Para que seja mais bem explicitada, a lei natural pode se dividida [...] em dez partes, compreendendo as leis de adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade e, por fim, a de justiça, amor e caridade [...].*

Essa divisão da lei de Deus em dez partes é a de Moisés e de natureza a abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes, pois, adotá-la, sem que, por isso, tenha qualquer coisa de absoluta, como não o tem nenhum dos outros sistemas de classificação, que todos dependem do prisma pelo qual se considere o que quer que seja. A última lei é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras (13).

A vivência da lei de Deus conduz o homem ao bem. E o [...] verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza1. Por extensão, reconhece-se [...] o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más (2).

Dessa forma, tanto [...] quanto podemos perceber o Pensamento Divino, imanente em todos os seres e em todas as coisas, o Criador se manifesta a nós outros – criaturas conscientes, mas imperfeitas – através de leis que Lhe expressam os objetivos no rumo do Bem Supremo (14).

Lembremo-nos, pois, de que no concerto admirável da Criação, somente será possível regenerar e burilar a nós mesmos para que a vida imperecível em nós se retrate vitoriosa, mas não nos esqueçamos de que, apesar da grandeza cósmica, nosso desequilíbrio no mal pode comprometer todo o sistema em que as Leis Divinas se expressam, através do trono sublime da natureza [...] (15).

(*) Essas leis serão estudadas nos módulos subseqüentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 17, item 3, p. 272.
2. ______. Item 4, p. 276.
3. ______. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, questão 614, p. 305.
4. ______. Questão 615, p. 305.
5. ______. Questão 617, p. 306.
6. ______. Questão 617-a, p. 306.
7. ______. Questão 619, p. 306.
8. ______. Questão 621, p. 307.
9. ______. Questão 621-a, p. 307.
10. ______. Questão 622, p. 307.
11. ______. Questão 623, p. 307.
12. ______. Questão 647, p. 314.
13. ______. Questão 648, p. 315.

14. XAVIER, Francisco Cândido. Justiça Divina. Pelo Espírito Emmanuel. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. (Nas leis do destino), p. 119.
15. ______. Inspiração. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. São Bernardo do Campo: Grupo Espírita Emmanuel, 1978. (Diante do universo), p. 72-73.