quarta-feira, 27 de maio de 2015

Influência do espiritismo no progresso da humanidade

Influência do espiritismo no progresso da humanidade


A Humanidade tem realizado, até ao presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições antiquadas, restos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que super excite neles o egoísmo e o orgulho.
Tal o período em que doravante vão entrar e que marcará uma das fases principais da vida da Humanidade. Essa fase, que neste momento se elabora, é o complemento indispensável do estado precedente, como a idade viril o é da juventude. Ela podia, pois, ser prevista e predita de antemão e é por isso que se diz que são chegados os tempos determinados por Deus.1 [...] Trata-se de um movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se, e os homens, que mais opostos lhe são, para ela trabalham a seu mau grado.2
Os Espíritos Orientadores nos esclarecem: Sim, decerto, a Humanidade se transforma, como já se transformou noutras épocas, e cada transformação se assinala por uma crise que é, para o gênero humano, o que são, para os indivíduos, as crises de crescimento. Aquelas se tornam, muitas vezes, penosas, dolorosas, e arrebatam consigo as gerações e as instituições, mas, são sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral [...].3 Uma coisa que vos parecerá estranhável, mas que por isso não deixa de ser rigorosa verdade, é que o mundo dos Espíritos, mundo que vos rodeia, experimenta o contrachoque de todas as comoções que abalam o mundo dos encarnados. Digo mesmo que aquele toma parte ativa nessas comoções. Nada tem isto de surpreendente, para quem sabe que os Espíritos fazem corpo com a Humanidade; que eles saem dela e a ela têm de voltar, sendo, pois, natural se interessem pelos movimentos que se operam entre os homens. Ficai, portanto, certos de que, quando uma revolução social se produz na Terra, abala igualmente o mundo invisível, onde todas as paixões, boas e más, se exacerbam, como entre vós [...]. À agitação dos encarnados e desencarnados se juntam às vezes, e freqüentemente mesmo, já que tudo se conjuga em a Natureza, as perturbações dos elementos físicos. Dá-se então, durante algum tempo, verdadeira confusão geral, mas que passa como furacão, após o qual o céu volta a estar sereno, e a Humanidade, reconstituída sobre novas bases, imbuída de novas idéias, começa a percorrer nova etapa de progresso. É no período que ora se inicia que o Espiritismo florescerá e dará frutos.4

A crença no Espiritismo ajuda o homem a se melhorar, firmando-lhe as idéias sobre certos pontos do futuro. Apressa o adiantamento dos indivíduos e das massas, porque faculta nos inteiremos do que seremos um dia. É um ponto de apoio, uma luz que nos guia. O Espiritismo ensina o homem a suportar as provas com paciência e resignação; afasta-o dos atos que possam retardar-lhe a felicidade, mas ninguém diz que, sem ele, não possa ela ser conseguida.12
É importante considerar que o [...] Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da Humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto, do que qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração; por isso, é ele contemporâneo desse movimento. Surgiu na hora em que podia ser de utilidade, visto que também para ele os tempos são chegados. Se viesse mais cedo, teria esbarrado em obstáculos insuperáveis; houvera inevitavelmente sucumbido, porque, satisfeitos com o que tinham, os homens ainda não sentiriam falta do que ele lhes traz. Hoje, nascido com as idéias que fermentam, encontra preparado o terreno para recebê-lo. Os espíritos cansados da dúvida e da incerteza, horrorizados com o abismo que se lhes abre à frente, o acolhem como âncora de salvação e consolação suprema.5
Os Espíritos responsáveis pela Codificação Espírita são incisivos quando nos dizem: Por meio do Espiritismo, a Humanidade tem que entrar numa nova fase, a do progresso moral que lhe é conseqüência inevitável. Não mais, pois, vos espanteis da rapidez com que as idéias espíritas se propagam. A causa dessa celeridade reside na satisfação que trazem a todos os que as aprofundam e que nelas vêem alguma coisa mais do que fútil passatempo. Ora, como cada um, o que acima de tudo quer, é a sua felicidade, nada há de surpreendente em que cada um se apegue a uma idéia que faz ditosos os que a esposam. Três períodos distintos apresenta o desenvolvimento dessas idéias: primeiro, o da curiosidade, que a singularidade dos fenômenos produzidos desperta; segundo, o do raciocínio e da filosofia; terceiro, o da aplicação e das conseqüências. O período da curiosidade passou; a curiosidade dura pouco. Uma vez satisfeita, muda de objeto. O mesmo não acontece com o que desafia a meditação séria e o raciocínio. Começou o segundo período, o terceiro virá inevitavelmente.13 Em outra oportunidade, os Espíritos Superiores voltam a nos afirmar sobre o destino do Espiritismo: Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque está na natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos. Terá, no entanto, que sustentar grandes lutas, mais contra o interesse, do que contra a convicção, porquanto não há como dissimular a existência de pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio, outras por causas inteiramente materiais. Porém, como virão a ficar insulados, seus contraditores se sentirão forçados a pensar como os demais, sob pena de se tornarem ridículos.6

De certa forma, é até esperado esse estado de coisas, pois, num mundo de expiações e provas como o nosso, sabemos que as [..] idéias só com o tempo se transformam; nunca de súbito. De geração em geração, elas se enfraquecem e acabam por desaparecer, paulatinamente, com os que as professavam, os quais vêm a ser substituídos por outros indivíduos imbuídos de novos princípios, como sucede com as idéias políticas.7 Assim, é preciso [...] que algumas gerações passem, para que se apaguem totalmente os vestígios dos velhos hábitos. A transformação, pois, somente com o tempo, gradual e progressivamente, se pode operar. Para cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo vem rasgá-lo de alto a baixo. Entretanto, conseguisse ele unicamente corrigir num homem um único defeito que fosse e já o haveria forçado a dar um passo. Ter-lhe-ia feito, só com isso, grande bem, pois esse primeiro passo lhe facilitará os outros.9

Foi dito que o Espiritismo enfrentará várias lutas e obstáculos, ao longo do caminho planejado pelo Alto, antes de sua aceitação como crença universal entre os homens. Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio do presente, lhe é dado reparar o seu futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos.8
A aceitação dos princípios espíritas não faz melhores as pessoas, em princípio. A melhoria do Espírito ficará patente quando, em decorrência do esforço individual, a pessoa implementar mudanças no comportamento, as quais garantirão uma verdadeira transformação moral. Neste sentido, os Espíritos Superiores nos alertam: Se o Espiritismo, conforme foi anunciado, tem que determinar a transformação da Humanidade, claro é que esse efeito ele só poderá produzir melhorando as massas, o que se verificará gradualmente, pouco a pouco, em conseqüência do aperfeiçoamento dos indivíduos. Que importa crer na existência dos Espíritos, se essa crença não faz que aquele que a tem se torne melhor, mais benigno e indulgente para com os seus semelhantes, mais humilde e paciente na adversidade? De que serve ao avarento ser espírita, se continua avarento; ao orgulhoso, se se conserva cheio de si; ao invejoso, se permanece dominado pela inveja? Assim, poderiam todos os homens acreditar nas manifestações dos Espíritos e a Humanidade ficar estacionária.14
Dessa forma, o combate ao materialismo representa apenas um passo, o primeiro passo de uma série de outros que nos transformarão em pessoas de bem. Atentemos para os seguintes esclarecimentos de Allan Kardec: 
Louváveis esforços indubitavelmente se empregam para fazer que a Humanidade progrida. Os bons sentimentos são animados, estimulados e honrados mais do que em qualquer outra época. Entretanto, o egoísmo, verme roedor, continua a ser a chaga social. É um mal real, que se alastra por todo o mundo e do qual cada homem é mais ou menos vítima. Cumpre, pois, combatê-lo, como se combate uma enfermidade epidêmica. Para isso, deve-se proceder como procedem os médicos: ir à origem do mal. Procurem-se em todas as partes do organismo social, da família aos povos, da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências que, ostensiva ou ocultamente, excitam, alimentam e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará então destruí-Ias, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se- á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação. É grave erro pensar-se que, para exercê-la com proveito, baste o conhecimento da Ciência.10
O Codificador do Espiritismo também nos explica que o homem [...] deseja ser feliz e natural é o sentimento que dá origem a esse desejo. Por isso é que trabalha incessantemente para melhorar a sua posição na Terra, que pesquisa as causas de seus males, para remediá-los. Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada momento o magoam, a que perturba todas as relações sociais, provoca as dissensões, aniquila a confiança, a que o obriga a se manter constantemente na defensiva contra o seu vizinho, enfim a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidade e, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança. E quanto mais haja sofrido por efeito desse vício, mais sentirá a necessidade de combatê-lo, como se combatem a peste, os animais nocivos e todos os outros flagelos. O seu próprio interesse a isso o induzirá. O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.11
Combatendo os vícios e estimulando o desenvolvimento de virtudes, o Espiritismo oferece condições para influir no progresso da Humanidade, promovendo uma era de renovação social e moral, pois a Doutrina Espírita é, [...] acima de tudo, o processo libertador das consciências, a fim de que a visão do homem alcance horizontes mais altos.15 O Espiritismo se tornará crença universal, porque representa a chave [...] de luz para os ensinamentos do Cristo, explica o Evangelho não como um tratado de regras disciplinares, nascidas do capricho humanos, mas como a salvadora mensagem de fraternidade e alegria, comunhão e entendimento, abrangendo as leis mais simples da vida.16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 45. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Cap. 18, item 5, p. 403-404.2. ______. Item 6, p. 404.3. ______. Item 9, p. 407.4. ______. Mensagem do Espírito Doutor Barry, p. 408.5. ______. Item 25, p. 417.6. ______. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 84. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, questão 798, p. 372.7. ______. p. 372-373.8. ______. Questão 799, p. 373.9. ______. Questão 800, p. 373.10. _____. Questão 917, p. 421, comentário.11. _____. p. 422.12. _____. Questão 982, p. 456, comentário.13. _____. Conclusão, item V, p. 482-483.14. _____. O livro dos médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 71. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Cap. 29, item 350, p. 442.15. XAVIER, Francisco Cândido. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Cap. 38 (Missão do Espiritismo), p. 159.16. ______. p. 160.

Espiritismo
Espiritismo é uma luz
Gloriosa, divina e forte,
Que clareia toda a vida
E ilumina além da morte.
É uma fonte generosa
De compreensão compassiva,
Derramando em toda parte
O conforto d’Água Viva.
É o templo da Caridade
Em que a Virtude oficia,
E onde a bênção da Bondade
É flor de eterna alegria.
É árvore verde e farta
Nos caminhos da esperança,
Toda aberta em flor e fruto
De verdade e de bonança.
É a claridade bendita
Do bem que aniquila o mal,
O chamamento sublime
Da Vida Espiritual.
Se buscas o Espiritismo,
Norteia-te em sua luz:
Espiritismo é uma escola,
E o Mestre Amado é Jesus. (Casimiro Cunha)
XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de além-túmulo. 11. ed. FEB, Rio de Janeiro, 1982, p. 235-236.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Progresso intelectual e progresso moral



A lei do progresso é inexorável. O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou. Ele se instrui pela força das coisas.           As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram nas idéias pouco a pouco; germinam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações7   Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam mútuo apoio, mas que, no entanto, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro tem recebido, no correr deste século, todos os incentivos. Por isso mesmo atingiu um grau a que ainda não chegara antes da época atual. Muito falta para que o segundo se ache no mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes sociais de hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o processo realizado. Ora, sendo assim, por que haveria essa marcha ascendente de parar, com relação, de preferência, ao moral, do que com relação ao intelectual? Por que será impossível que entre o século dezenove e o vigésimo quarto século haja, a esse respeito, tanta diferença quanta entre o décimo quarto século e o século dezenove? Duvidar fora pretender que a Humanidade está no apogeu da perfeição, o que seria absurdo, ou que ela não é perfectível moralmente, o que a experiência desmente9.    Na verdade, o atual progresso alcançado pela Humanidade representa um esforço evolutivo de milênios. Da sensação à irritabilidade, da irritabilidade ao instinto, do instinto à inteligência e da inteligência ao discernimento, séculos e séculos correram incessantes. A evolução é fruto do tempo infinito11. Outro ponto importante, merecedor de destaque, é que o progresso, moral ou intelectual, é sempre cumulativo. De átomo a átomo, organizam-se os corpos astronômicos dos mundos e de pequenina experiência em pequenina experiência, infinitamente repetidas, alarga-se-nos o poder da mente e sublimam-se-nos as manifestações da alma que, no escoar das eras imensuráveis, cresce no conhecimento e aprimora-se na virtude, estruturando, pacientemente, no seio do espaço e do tempo, o veículo glorioso com que escalaremos, um dia, os impérios deslumbrantes da Beleza Imortal12.          O progresso é, principalmente, resultado do esforço individual: quanto maior for o nosso empenho, melhores serão os resultados alcançados. O progresso nos Espíritos é o fruto do próprio trabalho; mas, como são livres, trabalham no seu adiantamento com maior ou menor atividade, com mais ou menos negligência, segundo sua vontade, acelerando ou retardando o progresso e, por conseguinte, a própria felicidade. Enquanto uns avançam rapidamente, entorpecem-se outros, quais poltrões, nas fileiras inferiores. São eles, pois, os próprios autores da sua situação, feliz ou desgraçada, conforme esta frase do Cristo: — A cada um segundo as suas obras. Todo Espírito que se atrasa não pode queixar-se senão de si mesmo, assim como o que se adianta tem o mérito exclusivo do seu esforço, dando por isso maior apreço à felicidade conquistada1.          O progresso intelectual e o progresso moral raramente marcham juntos, mas o que o Espírito não consegue em dado tempo, alcança em outro, de modo que os dois progressos acabam por atingir o mesmo nível. Eis por que se vêem muitas vezes homens inteligentes e instruídos pouco adiantados moralmente, e vice-versa2. No entanto, o progresso intelectual pode engendrar o progresso moral fazendo [...] compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos6.    esse sentido, a [...] encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual, pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral, pela necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades. A bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel, por alvo e por estímulo as relações do homem com os seus semelhantes3.          Observando os diferentes graus evolutivos existentes na Humanidade terrestre, compreendemos que uma [...] só existência corporal é manifestamente insuficiente para o Espírito adquirir todo o bem que lhe falta e eliminar o mal que lhe sobra. Como poderia o selvagem, por exemplo, em uma só encarnação nivelar-se moral e intelectualmente ao mais adiantado europeu? É materialmente impossível. Deve ele, pois, ficar eternamente na ignorância e barbaria, privado dos gozos que só o desenvolvimento das faculdades pode proporcionar-lhe? O simples bom-senso repele tal suposição, que seria não somente a negação da justiça e bondade divinas, mas das próprias leis evolutivas e progressivas da Natureza. Mas Deus, que é soberanamente justo e bom, concede ao Espírito tantas encarnações quantas as necessárias para atingir seu objetivo – a perfeição. Para cada nova existência de permeio à matéria, entra o Espírito com o cabedal adquirido nas anteriores, em aptidões, conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade. Cada existência é assim um passo avante no caminho do progresso4. É importante considerar também que o [...] Espírito progride igualmente na erraticidade, adquirindo conhecimentos especiais que não poderia obter na Terra [como encarnado] [...]. O estado corporal e o espiritual constituem a fonte de dois gêneros de progresso, pelos quais o Espírito tem de passar alternadamente, nas existências peculiares a cada um dos dois mundos5.          De posse dessas informações, é possível reconhecer, mesmo numa criança, a soma de progresso que o Espírito já alcançou: basta observar-lhe as tendências instintivas e as idéias inatas. Essa observação nos esclarece, por exemplo, por que existem crianças que se revelam boas em um meio adverso, apesar dos maus exemplos que colhem, ao passo que outras são instintivamente viciosas em um meio bom, apesar dos bons conselhos que recebem10. Na verdade, essas crianças refletem [...] o resultado do progresso moral adquirido, como as idéias inatas são o resultado do progresso intelectual10.          Devemos entender que, na essência, não existem obstáculos ao progresso intelectual, conforme nos ensina a Doutrina Espírita. O mesmo, porém, não se dá com o progresso moral. O maior obstáculo ao progresso moral são o orgulho e o egoísmo, segundo palavras de um dos Espíritos da Codificação, o qual, ao elucidar esta informação, nos diz: Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual reduplica a atividade daqueles vícios [orgulho e egoísmo], desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, que, a seu turno, incitam o homem a empreender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. Assim é que tudo se prende, no mundo moral, como no mundo físico, e que do próprio mal pode nascer o bem. Curta, porém, é a duração desse estado de coisas, que mudará à proporção que o homem compreender melhor que, além da que o gozo dos bens terrenos proporciona, uma felicidade existe maior e infinitamente mais duradoura8.          O orgulho e o egoísmo, assim como todas as demais imperfeições capazes de retardar a marcha evolutiva da Humanidade, chegarão um dia ao seu término, pois Deus reserva ao ser humano um venturoso estado de plenitude espiritual. Entretanto, por ora, enquanto nos encontramos no processo evolutivo que a lei do progresso faculta, a [...] suprema felicidade só é compartilhada pelos Espíritos perfeitos, ou, por outra, pelos puros Espíritos, que não a conseguem senão depois de haverem progredido em inteligência e moralidade2REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Tradução de Manuel Justiniano Quintão. 53. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Primeira parte, cap. 3, item 7, p. 30-31.2. ______. p. 313. ______. Item 8, p. 31.4. ______. Item 9, p. 32.5. ______. Item 10, p. 33.6. ______. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 84. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, questão 780-a, p. 363.7. ______. Questão 783, p. 365, comentário.8. ______. Questão 785, p. 365.9. ______. Questão 785, p. 366, comentário.10. ______. O que é o espiritismo. 50. ed. Rio de Janeiro: FEB,2004. Cap. III, item: O homem durante a vida terrena. Questão 120, p. 198.11. XAVIER, Francisco Cândido. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Cap. 4 (Na senda evolutiva), p. 23.
12. ______. p. 25.

Lei de ação e reação




A “lei de ação e reação”, ou princípio de causa e efeito, está relacionada à Lei de Liberdade e à sábia manifestação da Justiça e Bondade Divinas.  
Os atos praticados contra a Lei de Liberdade, própria ou alheia, nos conduzem à questão do livre-arbítrio, assim resumida:
[...] O homem não é fatalmente levado ao mal; os atos que pratica não foram previamente determinados; os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. Ele pode, por prova e por expiação, escolher uma existência em que seja arrastado ao crime,
quer pelo meio onde se ache colocado, quer pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir. Assim, o livre-arbítrio existe para ele, quando no estado de Espírito, ao
fazer a escolha da existência e das provas e, como encarnado, na faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que todos nos temos voluntariamente submetido. Cabe à educação combater essas
más tendências.(7) Devemos ressaltar que sem [...] o livre-arbítrio,  o homem não teria nem culpa por praticar o mal, nem mérito em praticar o bem. E isto a tal ponto está reconhecido que, no mundo, a
censura ou o elogio são feitos à intenção, isto é, à vontade. Ora, quem diz vontade diz liberdade. 

Nenhuma desculpa poderá, portanto, o homem buscar, para os seus delitos, na sua organização física, sem  abdicar da razão e da sua condição de ser humano, para se equiparar ao bruto.(8) O homem possui o suficiente livre-arbítrio para tomar  decisões, e, se [...] ele cede a uma sugestão estranha e má, em nada lhe diminui a responsabilidade, pois lhe reconhece o poder de resistir, o que  evidentemente lhe é  muito mais fácil do que lutar contra a sua própria natureza. Assim, de acordo com a Doutrina Espírita, não há arrastamento irresistível: o homem pode sempre cerrar ouvidos à voz oculta que lhe fala no íntimo, induzindo-o ao mal, como pode cerrá-los à voz material daquele que lhe fale ostensivamente.(9)

Essa teoria da causa determinante dos nossos atos ressalta com evidência de todo o ensino que os Espíritos hão dado. Não só é sublime de moralidade, mas também, acrescentaremos, eleva o homem aos seus próprios olhos. Mostra-o livre de subtrair-se a um jugo obsessor, como livre é de fechar sua casa aos importunos. Ele deixa de ser simples máquina, atuando por efeito de uma impulsão independentemente da sua vontade, para ser um ente racional, que ouve, julga e escolhe livremente de dois conselhos um. Aditemos que, apesar disto, o homem não se acha privado de iniciativa,
não deixa de agir por impulso próprio, pois que, em definitiva, ele é apenas um Espírito encarnado que conserva, sob o envoltório corporal, as qualidades e os defeitos que tinha como Espírito. Conseguintemente, as faltas que cometemos têm por fonte primária a imperfeição do nosso próprio Espírito, que ainda não conquistou a superioridade moral que um dia alcançará, mas que, nem por isso, carece de livre-arbítrio.(9)

A Justiça e Bondade Divinas estão evidentes nas manifestações da lei de causa e efeito. Desde [...] que admita a existência de Deus, ninguém o pode conceber sem o infinito das perfeições. Ele necessariamente tem todo o poder, toda a justiça, toda a bondade, sem o que não seria Deus. Se é soberanamente bom e justo, não pode agir caprichosamente, nem com parcialidade. Logo, as vicissitudes da vida derivam de uma causa e, pois que Deus é justo, justa há de ser essa causa. Isso o de que cada um deve bem compenetrar-se. (5) Sendo infinita a justiça de Deus, o bem e o mal são
rigorosamente considerados, não havendo uma só ação, um só pensamento mau que não tenha conseqüências fatais, como não há uma única ação meritória, um só bom movimento da alma que se perca, mesmo para os mais perversos, por isso que constituem tais ações um começo de progresso.(1) 

Se admitimos a Justiça de Deus, não podemos deixar de admitir que esse efeito tem uma causa; e se esta causa não se encontra na vida presente, deve achar-se antes desta, porque em todas as coisas a
causa deve preceder ao efeito; há, pois, necessidade de a alma já ter vivido, para que possa merecer uma expiação.(10) A expiação é, assim, a manifestação da lei de causa e efeito em decorrência de faltas anteriormente cometidas. Dessa forma, toda [...] falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga.(2) O Espírito sofre, quer no mundo corporal, quer no espiritual, a conseqüência das suas imperfeições. As misérias, as vicissitudes padecidas na vida corpórea, são oriundas das nossas imperfeições.(3)
O fato de haver uma relação de causalidade nos problemas, doenças e dores que enfrentamos — conseqüência de nossas ações — não significa que as causas estejam necessariamente em vidas anteriores. Muitos males que nos afligem têm origem em nosso comportamento na vida atual. E há enfermidades, limitações e deficiências físicas que são decorrentes de mau uso, isto é, usamos mal o corpo e lhe provocamos estragos. [...] Isso acontece particularmente com vícios e indisciplinas que geram graves problemas de saúde.(13) Por esta razão, ensinam os Espíritos Superiores: De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida. Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são conseqüência natural do caráter e do proceder dos que os suportam.(6) 

É na vida corpórea que o Espírito repara o mal de anteriores existências, pondo em prática resoluções tomadas na vida espiritual. Assim se explicam as misérias e vicissitudes da vida mundana que, à primeira vista, parecem não ter razão de ser. Justa são elas, no entanto, como espólio do passado.(4)
A quem, então, há de o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo? O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios; mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para sua vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela é apenas a sua incúria.(6)
O Entendimento [...] da lei de Causa e Efeito nos permite compreender, em plenitude, a justiça perfeita de Deus. Sentimos que tudo tem uma razão de ser, que nada acontece por acaso. Males e sofrimentos variados que enfrentamos estão relacionados com o nosso passado [recente ou remoto]. É a conta a pagar. Mas há outro aspecto, muito importante: Se a dor é a moeda pela qual resgatamos o passado, 
Deus nos oferece abençoada alternativa – o Bem. Todo esforço em favor do próximo amortiza nossos débitos, tornando mais suave o resgate.(14) Em Mateus, capítulo 26, versículos 47-52, encontramos referências ao princípio de ação e reação: “E estando ele ainda a falar, eis que veio Judas, um dos doze, e com ele grande multidão com espadas e varapaus, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do povo. Ora, o que o traía lhes havia dado um sinal, dizendo: Aquele que eu beijar, esse é: prendei-o. E logo, aproximando-se de Jesus, disse: Salve, Rabi. E o beijou. Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? Nisto, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam. E eis que as
imperfeições. As misérias, as vicissitudes padecidas na vida corpórea, são oriundas das nossas imperfeições.(3)
O fato de haver uma relação de causalidade nos problemas, doenças e dores que enfrentamos — conseqüência de nossas ações — não significa que as causas estejam necessariamente em vidas anteriores. Muitos males que nos afligem têm origem em nosso comportamento na vida atual. E há enfermidades, limitações e deficiências físicas que são decorrentes de mau uso, isto é, usamos mal o corpo e lhe provocamos estragos. [...] Isso acontece particularmente com vícios e indisciplinas que geram graves problemas de saúde.13 Por esta razão, ensinam os Espíritos Superiores: De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas
fontes diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida. Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são conseqüência natural do caráter e do proceder dos que os suportam.(6) É na vida corpórea que o Espírito repara o mal de anteriores existências, pondo em prática resoluções tomadas na vida espiritual. Assim se explicam as misérias e vicissitudes da vida mundana que, à primeira vista, parecem não ter razão de ser. Justa são elas, no entanto, como espólio do passado. (4)
A quem, então, há de o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo? O homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios; mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante para sua vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela, ao passo que a má estrela é apenas a sua incúria.(6) 
O Entendimento [...] da lei de Causa e Efeito nos permite compreender, em plenitude, a justiça perfeita de Deus. Sentimos que tudo tem uma razão de ser, que nada acontece por acaso. Males e sofrimentos variados que enfrentamos estão relacionados com o nosso passado [recente ou remoto]. É a conta a pagar. Mas há outro aspecto, muito importante: Se a dor é a moeda pela qual resgatamos o passado,
Deus nos oferece abençoada alternativa – o Bem. Todo esforço em favor do próximo amortiza nossos débitos, tornando mais suave o resgate.(14) Em Mateus, capítulo 26, versículos 47-52, encontramos referências ao princípio de ação e reação: “E estando ele ainda a falar, eis que veio Judas, um dos doze, e com ele grande multidão com espadas e varapaus, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do povo. Ora, o que o traía lhes havia dado um sinal, dizendo: Aquele que eu beijar, esse é: prendei-o. E logo, aproximando-se de Jesus, disse: Salve, Rabi. E o beijou. Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste?
Nisto, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam. E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha. Então Jesus lhe disse: Mete a tua espada no seu lugar; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.” Lucas informa que, em seguida, Jesus tocou a orelha do homem e a curou. O apóstolo Paulo diz algo semelhante na Epístola aos Gálatas (capítulo 6, versículo 7): “Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” 
Vemos, assim, que há [...] uma relação de causalidade entre o mal que praticamos e o mal que sofremos depois. O prejuízo que impomos ao semelhante é débito em nossa conta, na contabilidade divina.(11) Entretanto, é oportuno lembrar que não devemos confundir a lei de causa e efeito com a pena de Talião ou com a legislação de Moisés, que preconizam “dente por dente” e “olho por olho”. A lei de causa e efeito, segundo o entendimento espírita, refere-se tanto à manifestação da justiça, bondade e misericórdia divinas quanto à necessidade evolutiva do ser humano de reparar erros cometidos, decorrentes das inflações cometidas contra a Lei de Liberdade. Quando [...] Jesus afirma que quem usa a espada com a espada perecerá, ou Paulo proclama que tudo o que semearmos colheremos, reportam-se ao fato de que receberemos de volta todo o mal que praticarmos,
em sofrimentos correspondentes, não necessariamente idênticos, o que equivaleria à sua perpetuação. [...] As sanções divinas não dependem do concurso humano. Todo prejuízo causado ao semelhante provocará desajustes em nosso corpo espiritual, o perispírito, os quais, nesta mesma existência ou em existências futuras, se manifestarão na forma de males redentores.(12)
A literatura espírita é rica de inúmeros exemplos sobre a lei de causa e efeito.